As chamadas PICs têm ganhado espaço nos últimos anos e são ofertadas no SUS

Home office, insônia, ansiedade, estresse… Palavras que se tornaram constantes no vocabulário de grande parte da população neste ano. A Covid-19, não há como negar, mexeu com o cotidiano das pessoas, impôs restrições, gerou aflições e angústias.

Por outro lado, muitos começaram a perceber a importância de cuidar do corpo e da mente. Homeopatia, aromaterapia, reiki, meditação, acupuntura, yoga, são alguns exemplos de Praticas Integrativas e Complementares, as chamadas PICS, que já vinham crescendo nos últimos anos e ganharam ainda mais espaço nos últimos meses.

Para compreender mais detalhadamente as consequências provocadas pela pandemia nas pessoas, sobretudo no âmbito emocional, e o uso das PICS como ferramentas atenuantes nesse processo, o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz, com o apoio do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS), lançou mão de um questionário online.

O estudo, denominado Uso de Práticas Integrativas e Complementares no contexto da Covid-19 (PICCovid), aborda dois recortes: a utilização das PICS por pessoas que tiveram a doença provocada pelo novo coronavírus e a procura por aqueles que não foram infectados. O questionário teve início no dia 25 de agosto e já conta com mais de 10 mil participantes.

A previsão inicial era que ficasse no ar até o final de setembro, mas as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste não apresentaram número satisfatório de participantes para embasar o estudo e, por isso, o prazo foi adiado até o fim de novembro. Como a intenção é ter dados mais robustos, para não ser mais uma pesquisa com recortes concentrados no eixo Sul-Sudeste, o trabalho foi estendido.

Esse é considerado o mais amplo recorte já realizado no Brasil com a temática. Os pesquisadores esperam que os resultados contribuam para fortalecer a rede de pesquisa multidisciplinar para estudo e uso das PICS, trazendo à luz evidências sobre padrões de utilização de determinadas práticas. O questionário on-line pode ser acessado por computador, tablet ou celular e é destinado a toda a população.

Entre os objetivos desse trabalho, de acordo com a pesquisadora Patrícia de Moraes Mello, professora da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Unifase), está conhecer o perfil do uso de PICS na população brasileira e, a partir disso, subsidiar políticas públicas.

“No caso, nós já temos a PNPIC, que é a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, que nos coloca na vanguarda mundial. Então, fortalecer cada vez mais essa política é fundamental”, explica.

No Brasil, há 29 práticas reconhecidas no Sistema Único de Saúde (SUS). Na rede pública, o uso é orientado geralmente para situações de estresse, para restabelecer o bem-estar físico e emocional.

Embora a procura tenha aumentado nos últimos meses, as PICs não são usadas em substituição aos protocolos definidos pela comunidade cientifica para o tratamento da Covid-19. Desde o início da pandemia, em março, tem havido relatos sobre utilização das práticas integrativas como suporte à qualidade de vida, um tipo de autocuidado para equilíbrio mental e emocional.