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As ações, decisões e o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, são vistos como uma violação do estado democrático e aproximam o Brasil de ditaduras fundamentalistas vividas no Oriente Médio, segundo Carlos Navarro, jornalista e coordenador da Comissão Nacional da Verdade na Bahia, responsável pela investigação de violações aos direitos humanos.Na avaliação de Navarro, a orientação de Bolsonaro para que quartéis celebrem o dia 31 de março de 1964, data em que, através de um golpe militar, o governo de João Goulart foi derrubado e se iniciou um regime ditatorial que durou 21 anos (leia aqui), é no mínimo “preocupante”. “Eu não sei qual a intenção específica dele, mas é de provocação. Provocar um golpe armado ou uma condição social para ter mais poder”, disse o presidente da Comissão.

A admiração do presidente brasileiro pelo regime militar poderá torná-lo uma vítima de um episódio de “golpe constitucional”, de acordo com Navarro. O jornalista sinalizou que a presença de um número exponencial de militares em cargos no governo é uma questão paradoxal. Ao mesmo tempo que atualmente contribui com a estabilidade do governo, existe a possibilidade de tomada do poder das mãos de Bolsonaro.

“O que garante o governo dele são os militares, os generais que estão lá. Por mais paradoxal que pareça, esse generais vão garantir o governo, até uma certa estabilidade. Acredito que eles façam isso até completar dois anos, aí eles tiram Bolsonaro do poder e assume o Mourão”, previu Carlos Navarro. “Depois de dois anos não precisa ter uma eleição suplementar”, esclareceu.

Ele destacou ainda que a estratégia de gestão de Bolsonaro “é o medo, é intimidar” e que a falta de conhecimento das pessoas a respeito da ditadura e do golpe militar que levou o Brasil até ela é um problema. “Falta numa boa parte da população o conhecimento sobre 64. Porque as pessoas que hoje tem 30/40 anos não têm noção do que foi 64. Muitos não eram nem nascidos quando houve o golpe”, explicou.

A maneira como o governo Bolsonaro encara e trata a educação e as escolas também foi alvo de críticas por parte do coordenador da Comissão Nacional da Verdade na Bahia. “Eles acham que as escolas estão politizadas, querem que a escola só fale em Deus e patriotismo. O problema deles agora é ideológico, é acabar com qualquer movimento e noção política que não seja de extrema direita”, disse Navarro ao defender que este comportamento atenta contra o estado democrático. “Não se faz democracia com fundamentalismo religioso, leva ao que ocorre no Oriente Médio, estamos caminhando pra lá”, argumentou Navarro.

A Comissão Nacional da Verdade na Bahia constatou, em três anos de trabalho, que 538 pessoas tiveram direitos violados na Bahia, durante os 21 anos de ditadura militar, entre 1964 e 1985. Dos 426 mortos ou desaparecidos em todo o Brasil no período, 32 são baianos.

Neste sentido, a recomendação da Comissão foi de divulgação de informações sobre a ditadura em bibliotecas, escolas e universidades, para “revivar ou dar conhecimento a quem não tinha sobre o que foi 64, o golpe, as prisões, as torturas”.

Fonte: Bahia Notícias/Jade Coelho